Thursday, May 31, 2007

Ponto de Fuga em novo endereço

Clique para conhecer: http://www.pontodefuga.jor.br

Fazer mudança em pleno frio não é tarefa fácil. Mas mesmo assim tomei coragem e levei o Ponto de Fuga para uma casa nova.
Nem precisa nem se preocupar porque é pertinho daqui.

Basta digitar alguns quarteirões e você estará no novo PONTO DE FUGA.

E veja como são as coisas: blog não dá dinheiro, mas mesmo assim arrumei uns trocados para sair da república (blogspot) para uma casa própria (Wordpress). Subi de vida, ascensão digital.

Espero você lá!

Thursday, April 19, 2007

Dor Elegante, de Itamar Assumpção e Paulo Leminski

Algumas notas preciosas penetram até as vísceras

“Um homem com uma dor é muito mais elegante”. Que dor é essa? Que elegância amargada é essa que compõe nossa mínima parte? Nossa íntima sofreguidão, nosso dilaceramento contínuo?

É a dor, e nada mais. Dor que apenas se sente. Mas também podemos carregá-la como se portássemos uma medalha. É a nossa digna resposta à inexorável crueza da vida.

Tuesday, April 17, 2007

Conversas sobre jornalismo, meio digital etc e tal


No último sábado, participei de um evento anual promovido pelo Colégio Porto Seguro, aqui de São Paulo. Chamado de Fórum de Profissões, o encontro reuniu profissionais de diversas áreas. O objetivo era que, ao contarem um pouco de sua experiência nas respectivas carreiras, os convidados ajudassem os alunos – principalmente os do ensino médio – a conhecer um pouco melhor cada profissão. Afinal, muitos deles estão em vias de prestar o vestibular.
Na mesa em que participei também estavam o Chico Pinheiro e a Carla Vilhena, da Rede Globo; Eliseu Lopes, coordenador do departamento de cinema da FAAP; e Edson Gardin, coordenador do curso de Rádio e TV da mesma faculdade.

Já é o segundo ano em que participo desse encontro e mais uma vez gostei muito. É um prazer falar sobre jornalismo e trocar experiências com a garotada. E como o painel do qual participei era bem diversificado – com profissionais de áreas distintas, embora afins–, creio que o bate-papo tenha sido proveitoso para os alunos. Foi possível dar uma visão mais abrangente da comunicação.

A Carla Vilhena,por exemplo, falou de como começou sua carreira no Rio de Janeiro, já em TV, ao passo em que o Chico Pinheiro preferiu falar de maneira mais ampla sobre o jornalismo: a preocupação com o bem comum, a necessidade de o jornalista ter um olhar aguçado para as pessoas e a realidade social, e por aí vai. Percebi que o objetivo dele era cutucar a turma, mostrar que a técnica é o de menos. O que vale é o perfeito entendimento do papel do jornalista e a paixão por exercer a profissão. O Edson, que se lembrou de mim dos tempos de TV Gazeta - quando eu era estagiário e nem trabalhava diretamente com ele, na década de 90 (haja memória!)-, abordou o impacto da TV Digital. Já o Eliseu falou que, se o objetivo é ganhar dinheiro, é melhor pensar duas vezes antes de fazer cinema. Mas se a idéia for seguir o coração, então vá fundo porque o cinema e maravilhoso e fará você feliz. Concordo com ele.


Aproveitei a ocasião para falar um pouco das coisas que me inquietam atualmente, como a profunda transformação na comunicação, especialmente pelo avanço do digital. Estamos em tempos de convergência de mídias, o que muda bruscamente o modo como de produção e de distribuição de conteúdo.

Comentei que pensar no velho paradigma do jornalista de veículo impresso, de rádio ou TV perde sentido no mundo que está se desenhando diante de nossos olhos. Mais: a própria divisão por áreas estanques (você é jornalista, você é arquiteto, você é engenheiro e cada macaco que fique no seu galho) também não pode ser levada tão a ferro e fogo. O mundo do trabalho mudou, as coisas começam a se misturar e o processo de comunicação hoje requisita competências que se complementam.

Em parte isso se deve ao fato de que, com a web 2.0 e o conteúdo colaborativo, alguém que detenha um bom conhecimento de um determinado assunto, domine minimamente as ferramentas tecnológicas e saque o que as pessoas desejam, pode perfeitamente ser um produtor de conteúdo e ganhar dinheiro com isso.Tudo bem, são poucos os que hoje vivem de um projeto empreendedor na área digital, mas a tendência é que esse movimento ganhe corpo.


Duas entrevistas que fiz recentemente para a revista Meio Digital, do Meio & Mensagem (o link só é possível para a edição do ano passado, mediante cadastro no site), me ajudaram a avançar no entendimento desssas questões. Uma delas foi com um professor da PUC, Rogério da Costa (autor do livro A Cultura Digital, editado pela Publifolha). Ele teceu uma análise instigante sobre os efeitos da internet móvel ( o estímulo aos smart mobs de que fala Howard Rheingold). Falarei melhor sobre isso posteriormente.

Por hora, destaco o seguinte: segundo ele, na era digital, o jornalista pode passar a ser a de um orientador de redes sociais,ou seja, aquele que pode conduzir as comunidades no emaranhado digital. Já o professor Walter Lima, da pós da Cásper Líbero– que também entrevistei para o Meio Digital – alerta para a necessidade de o jornalista dominar as interfaces tecnológicas, para ter mais condições de criar produtos (revistas eletrônicas, produtos multimídias etc) inovadores.

Isso aqui dá assunto para mais de metro, principalmente porque estou lendo e vasculhando o tema. Para encerrar: disse para a garotada que o blog e o podcasting que eles fazem, a página do Orkut que mantém, os torpedos que enviam toda hora, a TV digital que em breve chegará à casa deles, tudo isso é matéria para o jornalismo. Quem deseja ingressar na área não pode ficar alheio. E quem está nela muito menos, embora seja comum notar uma grande resistência a essas mudanças em muitos que prestaram o vestibular de jornalismo muitas primaveras atrás.

Fantástico esse comercial do Fusca

A narração é uma maravilha. Tudo é uma maravilha. Dá-lhe Fuscão!

Ao buscar o filme no YouTube, reparei que há outros comerciais antigos do velho Volks. Deve ter sido a mesma pessoa que postou numa leva só, vai saber? Para encontrar, basta digitar "comercial Fusca".

Enbriague-se com o Fuca-bala da Polícia paulista.

Friday, April 13, 2007

Carta ao Senhor Ladrão

Singelo pedido feito por algum cidadão em algum lugar do Brasil. Vale a menção honrosa para a observação, no pé da faixa.

Monday, April 09, 2007

Sob o impacto de Antonioni


Rascunho emocionado depois de ver A Noite e A Aventura

Em Antonioni, o espectador se vê diante das paixões arrefecidas, do esvaziamento das relações. A modernidade líquida a moldar os sentidos; sorrateira. Uma metáfora para o vazio existencial: a câmera nos leva ao nosso mais profundo abismo, ao baú de tormentos, e nos revela a dimensão da angústia escondida na curva dos olhares.

E tem ostentação, aparências, interstícios amorosos: estamos n’A Noite. Jeanne Moreau, Mastroianni e Monica Vitti. E então vem A Aventura , com rochas, mares e um novo despertar. Um universo de futilidades, incertezas e o reencontro da paixão – em Monica Vitti. Sim, iremos para onde ela quiser nos levar; sem máscaras, sem medo de amar.

Thursday, April 05, 2007

Adesivo de carro

Estava lá, apologético, pouco acima do escapamento:

"Seja vegetariano e evite um desastre cósmico"

Tuesday, April 03, 2007

O meu começo

Com o rock me descobri gente. Sedento, ansioso por viver, rasgando convenções. Um sopro de rebeldia, e a poesia corria no sangue. Fervia – não sabia o que era mas gostava. E vivi, corri, pulei, chorei. Ri demais. Ainda hoje relembro com saudades as primeiras bandas, os primeiros sonhos, as primeiras angústias e alegrias da vida.

Wednesday, March 28, 2007

Um testemunho amoroso

A peça O Homem Provisório, sobre a qual comentei na postagem anterior (dá uma abaixadinha na tela para você ler) não me emociona apenas pela sua riqueza artística. Paralelamente, há também um componente emocional muito forte que me liga ao espetáculo – e isso não influencia no que penso a respeito da qualidade da obra, de resto digna de reconhecimento: a Alê, minha amada, é produtora da peça ao lado Guto, um grande amigo que já faz parte da lista dos mais queridos.

Como é gratificante ver, depois de meses, o árduo trabalho dessa dupla gerar um belo fruto, junto com os demais amigos do grupo Casa Laboratório. Fico feliz de ver como o contato com a arte deixa minha Alê realizada, feliz, embora cansada da maratona que é levar um espetáculo teatral desse porte aos palcos. É como se todo o estresse inerente a um projeto intenso, que buscou o tempo inteiro o melhor, se transformasse num sorriso gostoso depois do batismo de fogo.

Alê, meu amor, siga em frente nesse caminho bonito que você está construindo, com brilho e talento. Estarei ao seu lado, com a companhia de Riobaldo e Diadorim!

O espetáculo O Homem Provisório

Há uma angústia em suspenso: temos um homem em conflito, deslocado no tempo e no espaço, embebido em veredas. Há trotes, galopes e a transcendência do amor. E o ódio, a maldade, mas também a doçura escondida no seio do cangaço – a crueza da fé.

O universo do sertão numa caixa preta – nossa Pandora de pedra, suor e amargura–, a tremular sua secura num cenário metafísico, que nos transporta para dimensões refletidas em nosso abismo espiritual: ora observa-se do lado de fora, ora mergulha-se num noitão sem-fim, e o Coisa Ruim que não tira os zóio de Riobaldo! Diadorim?! É o Grande Sertão:Veredas no Homem Provisório. É Riobaldo, somos nós: jagunços de corações partidos, provisórios, finitos. Seres consagrados pela materialidade da desgraça.

E temos Glauber com Rosa, Deus e o Diabo na Terra do Grande do Sertão:
a cena do ingresso do jagunço no bando de Corisco. De cortar o coração. Assim como as chibatadas de Diadorim em suas próprias costas. Talvez sejam essas as marcas que carregamos que pela eternidade, nosso Sísifo irreconciliável.

**********************************************************************************
Escrevi o texto acima motivado pela peça O Homem Provisório, dirigida por Cacá Carvalho e pela Fondazione Pontedera Teatro, com o Grupo Casa Laboratório para as Artes do Teatro. Assisti ontem à pré-estréia, no Sesc Paulista, aqui em São Paulo. A estréia será nesta sexta-feira (clique aqui para saber mais).

Inspirado em Grande Sertão: Veredas, o texto foi escrito pelo poeta Geraldo Alencar – parceiro de Patativa do Assaré –, que vive no sertão do Cariri. Espetáculo primoroso, de arrebatar o coração.

O ponto de partida e chegada é o livro de Rosa, mas não só: para resumir, vejo a peça como um diálogo com a cultura brasileira, conduzido a partir da reflexão sobre o papel da figura do jagunço na alma nacional. Com direito a Glauber Rocha, literatura de cordel, Lampião e seu bando ( e a famosa foto Cabeças Cortadas, que mostra os cangaceiros decapitados), entre outras coisas.

Sou testemunha da batalha e da intensa dedicação de todas as pessoas envolvidas na peça. São pessoas as quais aprendi não só a admirar o trabalho, mas também a intensidade e a entrega na amizade.

Parabéns a todos.

Sunday, March 25, 2007

O cinema de Eric Rohmer



A câmera discreta, sem ousadias ou enquadramentos sensacionais, acompanha diálogos e mais diálogos, longas caminhadas pelas ruas e encontros casuais (será?) que embaralham destinos. Flagra olhares que mais escondem que revelam, e a aparente trivialidade da vida cotidiana na verdade serve para encobrir o que está atrás, o que só se revela nas entrelinhas, aquela fração de humanidade a que nem sempre nós mesmos temos consciência de possuir.

Parece ser isso o que os filmes de Eric Rohmer repetidamente se põem a dizer. Pelo menos é assim que os recebo: sinto como se Rohmer quisesse mostrar para esconder, falar para não dizer. É isso o que me intriga e por isso mesmo me encanta no universo rohmeriano.

Essas questões todas me vêm martelando a cabeça neste início de ano, que está delicioso para quem gosta ou desejar conhecer o cinema de Rohmer. Tudo começou com uma retrospectiva organizada pela Cinemateca Brasileira, entre fevereiro e março, em que foram exibidos vários longas-metragens. Agora, a sobremesa é servida com a chegada às locadoras, em meados de março, dos quatros DVDs que compõem a série Contos das Quatro Estações.

Conto de Inverno
Lançamento muito bem-vindo por parte do Grupo Estação – também detentor do direito no Brasil de uma série longas-metragens de Rohmer –, porque serve para minimizar a escassez de filmes do cineasta francês por aqui. Feitos os elogios, no entanto, alguns resmungos: não há extras nos DVDs e a quantidade filmes de Rohmer no mercado brasileiro ainda é ínfima, perto do total de obras dirigidas pelo cineasta.


Mas voltemos ao que interessa.

Depois de me embebedar com tanto Rohmer, alguns traços de sua carpintaria cinematográfica me ficam mais claros. O que primeiro salta aos olhos é, como já citei, a quantidade de diálogos. Os personagens passam o filme inteiro conversando. Mas não só isso: conversam, mas quase invariavelmente o fazem enquanto se locomovem. Se não estão caminhando a pé pelas ruas de Paris ou de outras cidades francesas, os personagens – geralmente jovens e de classe média – tagarelam em carros que estão em movimento. Caso estejam sentados à mesa de um bar (e há muitos diálogos em bares ou cafés), no fundo costuma haver uma vidraça através da qual se vê a cidade, com seus transeuntes e carros em trânsito. Ainda não consegui entender muito bem qual o significado disso. Mas trata-se de um elemento importante para a composição da mise-en-scène, a ponto de me levar a dizer que o movimento é praticamente um personagem em Rohmer

Selecionei um trecho que ilustra bem esses traços. Está presente em o Conto de Verão (de 1996), que apresenta a história de um adolescente hesitante (Gaspard) que vai passar férias numa região litorânea e, enquanto aguarda a chegada da namorada, começa a se relacionar com outras duas garotas (esse aspecto psicológico também dá pano para manga, mas deixo isso para outro dia). Repare:




Outra característica marcante no filmes de Rohmer são os encontros fortuitos. Isso ocorre, por exemplo, em O Amigo da minha amiga, A mulher do Aviador ou – já que estamos falando d’Os Contos – em o Conto da Primavera e no já citado Conto de Verão.

No primeiro caso, que faz parte da série Comédias e Provérbios, uma jovem por acaso faz amizade com uma outra jovem, que por sua vez tem um namorado que é amigo de um galã que desperta a atenção das mulheres. Já em A mulher do Aviador, também da mesma série, um mal entendido provocado pela visão de um encontro é o ponto de partida para uma história de ciúmes, insegurança e incertezas relativas ao amor. Em Conto da Primavera, uma madura professora de filosofia, Jeanne, vai a uma festa e lá se torna amiga de Natasha, uma garota cujo pai namora uma mulher muito mais jovem que ele.

A Mulher do Aviador

Em comum, esses filmes têm o fato de contarem histórias extremamente simples. Mas, como diz o crítico Inácio Araújo, as histórias de Rohmer “são tão banais, mas tão banais, que nos perguntamos qual a vantagem de contá-las e, sobretudo, de ficar lá, vendo aquilo”.



A resposta, segundo o crítico, é o “benefício da dúvida”. Sim, também concordo. Rohmer capta a vida de forma sutil, e assim nos transforma em cúmplices do prazer e da dúvida.

Thursday, March 22, 2007

Que sacanagem, não?

Gostei desse comercial da Heineken, com a atriz Jennifer Aniston.
Dica do meu grande amigo Eduardo Augusto, também conhecido mundialmente como Alemão.


Tuesday, March 20, 2007

Sunday, March 18, 2007

Rapidinhas sobre a leitura



1. De Paul Valéry, citado por W.H Auden no livro A Mão do Artista:

“Só se lê aquilo que é lido com algum propósito pessoal. Pode ser até com a intenção de adquirir poder. Pode ser até mesmo com ódio ao autor”.

2. Mais sobre a leitura, agora do próprio Auden:

“Ler é traduzir, pois a experiência de cada pessoa com o texto é exclusiva. Um mau leitor é como um mau tradutor: interpreta literalmente quando deveria parafrasear, e adota a paráfrase quando deveria interpretar literalmente. Para aprendermos a ler de uma forma mais crítica, a erudição, embora bastante útil, é menos importante que o instinto; há grandes eruditos que, como tradutores, mostram-se fracos”.

3. Eis que essas pílulas sobre o ato de ler me fizeram buscar na prateleira A Aventura do Livro - do leitor ao navegador, de Roger Chartier:

“A leitura é sempre apropriação, invenção, produção de significados. Segundo a bela imagem de Michel Certeau, o leitor é um caçador que percorre terras alheias. Apreendido pela leitura, o texto não tem de modo algum – ou ao menos totalmente – o sentido que lhe atribui seu autor, seu editor ou seus comentadores. Toda história da leitura supõe,em seu princípio, esta liberdade do leitor que desloca e subverte aquilo que o livro pretende lhe impor”

4. A minha visão sobre a leitura

Ler é se aventurar numa escuridão de delícias; é atravessar o abismo sem o risco da queda. É ver-se refletido nos outros que há em nós e vice-versa; é desdobrar-se em um, nenhum e cem mil. É conhecer a si mesmo olhando de dentro do inferno.

Uma pausa, por favor

Estou trabalhando muito ultimamente, e isso explica o sumiço durante alguns dias aqui do Ponto de Fuga, que anda carente de posts novos. Muita correria para fechar edições de revistas, desenvolver projetos de novas publicações, pensar em pautas, prospecção etc.

Como se não bastasse o trabalho jornalístico propriamente dito, preciso também cuidar de aspectos administrativos da editora da qual sou sócio, a Toda Palavra. Afinal, parafraseando uma propaganda antiga (do quê mesmo?), “não basta ser empreendedor, tem de participar”.

Juro que não fiz esse preâmbulo para justificar a escassez de posts. Na verdade, foi o gancho que encontrei para falar da necessidade de, com uma certa freqüência, darmos uma paradinha no ritmo alucinante da vida cotidiana. Às vezes precisamos simplesmente não fazer nada: apenas respirar fundo e deixar o coração tranquilo.

Foi o que fiz numa noite dessas. E o fiz com música, muita música. Esparramado no tapete da sala, a janela da varanda aberta, revirei o monte de CDs. Miles Davis, Chet Baker, The Doors, Chico Buarque, Rolling Stones, Sérgio Sampaio, Lobão, Cazuza, Legião Urbana, Jonh Lee Hooker, Gal Costa. Salada sonora. Do jeito que o diabo gosta.

Pensei de tudo um pouco. Pensei, por exemplo, que em minhas veias talvez corra um barquinho, de lá para cá, de cima para baixo, procurando alguma portinha que permita desbravar um horizonte novo dentro de mim mesmo.

Fiquei horas assim.

Da janela da varanda, a noite me lambia a cara, me chamando para a vida, dizendo que, sim, que a vida vale a pena – apesar de as notícias dos jornais ultimamente nos darem todas as razões para acreditar no contrário.

Wednesday, February 28, 2007

O direito de resposta de Brizola no Jornal Nacional



Mais uma pérola vinda do YouTube, essa de caráter histórico. Encontrei no blog Pensar Enlouquece, a partir de dicas de outros internautas, o vídeo da transmissão pelo Jornal Nacional, em 1994, do direito de resposta obtido por Brizola contra a TV Globo. Na época isso gerou um bafafá danado.

É um acontecimento ver o Cid Moreira, tonitruante como convém aos mensageiros bíblicos, ler o texto em que Brizola vocifera contra o império global. O acontecimento em si já é digno de marcar época, mas o que eleva a esse episódio ao panteão dos principais momentos da mídia é o fato de a ingrata missão ter caído no colo justamente daquele que era própria imagem e semelhança da Vênus Platinada.

Vale conferir.

Tuesday, February 27, 2007

Bukowski na rede


Por um desses acasos da internet, encontrei um hot site sobre Charles Bukowski preparado pela Editora Conrad. Criado à época da divulgação do livro Charles Bukowski: vida e loucuras de um Velho Safado, biografia escrita por Howard Sounes, o espaço tem um resumo da vida do escritor, curiosidades, resenhas e uma série de links a respeito do autor.


Foi o que bastou para atiçar em mim novamente a vontade de mergulhar no universo vagabundo, boêmio e tresloucado de Bukowski.

Monday, February 26, 2007

Até que enfim


Tudo bem: Oscar é festa da indústria, é de uma breguice de dar dó, com sorrisos postiços e aquele festival de afetações. Mas esta aí, é fato. E serve como um retrato de parte importante da produção mundial.



Feitos meus resmungos, digo que torcia pela remotíssima vitória de Pequena Miss Sunshine, mas fiquei feliz pela vitória de Os Infiltrados, de Martin Scorsese. Merecido: pungente, o filme se faz no fio da navalha, abordando o limite entre a lealdade (mas que de que lealdade estamos falando e a quem?) e a tentativa de salvar o próprio pescoço; num ritmo alucinante e envolvente, Scorsese deixa o espectador sem fôlego, pronto para o abate.



Embora um bom filme, no entanto, não colocaria Os Infiltrados no mesmo nível de Taxi Driver, Touro Indomável ou Os Bons Companheiros, que não ganharam Oscar de melhor filme. Em todo caso, foi com essa obra que a Academia se rendeu a Scorsese. Já estava mais do que na hora.

Sunday, February 25, 2007

Tédio não é nosso problema


De Ferreira Gullar, no programa Retalhão, do Canal Brasil:

"De tédio o brasileiro não morre - só de susto"

Será que vai dar?

Estou na maior torcida para que essa família maluca leve o Oscar.

Saturday, February 24, 2007

A Fraternidade é Vermelha


O Telecine Cult exibiu dias atrás A Fraternidade é Vermelha. O filme faz parte da “Trilogia das Cores” ao lado de A igualdade é branca e A liberdade é azul, todos de Krzysztof Kieślowski , cineasta polonês falecido em 1996 que deixou seu nome gravado na lista dos grandes na história do cinema. Foi bom rever esse belo e marcante longa-metragem, que nos toca tanto pela suavidade com que mergulha no complexo – e misterioso – abismo das relações humanas como pela força poética que sustenta sua fotografia –prazer dos olhos, para fazer uso de uma expressão de Truffaut.

Krzysztof Kieślowski
Se for verdade que a sutileza e o bom gosto dão o tom de “A Fraternidade”, também o é a certeza de que o filme nos arremessa no colo uma bomba de efeito moral, destinada a nos questionar a respeito de nossa incompreensão mútua, a indiferença com que nos tratamos, o não reconhecimento do Outro; a incomunicabilidade das relações no estágio mais agudo.

Não por acaso, Kieślowski permeia o filme com símbolos que remetem à comunicação – ou à falta de. A metáfora se apresenta logo nos primeiros minutos de película, quando o telefone da protagonista Valentine (Irene Jacob) toca insistentemente: quem chama é seu namorado, que invariavelmente extravasa, sempre pelo telefone, suas neuras, crises de ciúme, seu medo de “perder” Valentine. E não pára por aí: a simbologia atinge o ponto máximo com o personagem do juiz aposentado cujo deleite secreto é grampear as conversas telefônicas dos vizinhos.

A Fraternidade é Vermelha é a confirmação do cinema não só como arte, mas como filosofia de vida.


E Deus criou Irene Jacob

Agora deixando de lado as questões técnicas ou qualquer devaneio crítico, a verdade é que o maior encanto em A Fraternidade, pelo menos para mim, é a talentosa Irene Jacob. É difícil explicar por que a figura dela me comove tanto. Talvez pelo fato de me intrigar e eu não saber explicar de onde vem seu segredo. Talvez por ser dotada de uma beleza que contrasta com a opulência vulgar do padrão enaltecido pelo senso comum e reverberado pela mídia (as turbinadas, siliconadas, popozudas de academia). Irene é sedutora sem ser fatal, graciosa sem ser afetada. Embora lindíssima, não soa inatingível: ela poderia morar do outro lado da rua.



Embora com estilo próprio e sem ter alcançado o mesmo glamour que as grandes divas do cinema francês, Irene Jacob é descendente de uma escola de atrizes composta por Jeanne Moreau, Catherine Deneuve, Brigitte Bardot, Anna Karina, Fanny Ardant e Julliete Binoche, que também participou da "Trilogia das Cores", como protagonista de A Liberdade é Azul.

Depois de falar tanto em Irene, chegou a hora de vê-la. Selecionei uma cena muito bonita de A Fraternidade. Neste trecho do filme, enquanto desfila ela procura pelo juiz, a essa altura já seu amigo. De resto, a cena é mais um exemplo da mestria de Kieślowski. Ele proporciona ao espectador densidade e emoção em uma cena que se passa em um desfile de moda, ambiente que se caracteriza pela superficialidade, especialmente no que se refere ao contato humano.

Friday, February 23, 2007

Banda que toca dentro do computador


O jornalista Tiago Dória postou em seu blog um videoclipe para lá de interessante. É da banda The Chalets, com a música Feel the Machine. O clipe tem a sacada legal de colocar a banda num ambiente de computador, como se os músicos estivessem enjaulados na tela do micro.

É metalinguagem digital, é a desconstrução de Derrida aplicada ao ciberespaço.

Ao mesmo em que só tem compromisso com a diversão, a banda brinca com a linguagem e a empurra para além das fronteiras com as quais nos acostumados a lidar.

E, não esquecendo o aspecto musical, um comentário: li no blog Orange Lazaru's que o The Chalets parece um B-52s moderno. Pois não é que acho que o distinto blogueiro tem razão?

Veja o clipe.

Sunday, February 18, 2007

Palavras de Dona Benedita 2

Sobre pessoas ruins: "Esse aí Deus criou, o Diabo juntou e o vento soprou".

Palavras de Dona Benedita

"Cuidado na vida e sentido no tempo"

Saturday, February 17, 2007

Você era Emilinha ou Marlene?

Um achado: Roberto Carlos e Caetano Veloso cantando a belíssima Como dois e dois, de Caetano, em um especial do Rei para a TV, em 1975.
O vídeo é intercalado por um bate-papo em que até as Rainhas do Rádio são relembradas.

Thursday, February 15, 2007

Brasil pré-carnaval

"Tá emPACado, tá tudo emPACado."

Maluz faz releitura do "devo, não nego, pago quando puder"

O Brasil conheceu ontem uma nova versão para o lema dos endividados: "devo, não nego, pago quando puder. E, vejam só, veio de Paulo Salim Maluf, em pomposo discurso ontem na Câmara dos Deputados. Disse o nobilitado político, um dia chamado de "mitômano" por Marta Suplicy:

"Quando paga a dívida, o processo penal é arquivado. Vamos propor um projeto de lei com PENAS SEVERAS PARA INFRATORES (grifo do Ponto de Fuga), como nos Estados Unidos, acompanhado de um Refis definitivo".

Depois de um intróito retumbante, o desfecho apoteótico, bem apropriado ao período da folia carnavalesca:

"Quem deve, reconhece e paga, em prestações compatíveis com o tamanho de sua empresa. E está com a ficha limpa."

E estamos conversados.

Wednesday, February 14, 2007

Em tempos de mediocridade e vale-tudo no show business, é bom trazer para o centro do palco uma banda como o Midnight Oil. Fundada em 1976 na Austrália, seu rock and roll simples e potente reverberava uma voz política que, quando bem articulada, sempre fez bem ao universo pop. Isso sem falar no fato de que o grupo abordava a questão ambiental muito antes de o tema virar motivo de apreensão mundial - nadavam contra a corrente do mainstream. Ainda me lembro muito bem dos bolachões da banda que comprava na Galeria do Rock, aqui em São Paulo (Diesel and Dust, por exemplo, me remete a um tempo agradável da vida, repleto de descobertas e sonhos de mudar o mundo). O som do grandalhão careca Peter Garrett e companhia me acompanhou durante toda a adolescência. É bom ouvi-los novamente.

Visite o site oficial da banda e também de Peter Garrett


Blue Sky Mine

Sunday, February 11, 2007

Pefelê também usa botox

Os caciques do atraso dão um tapa na imagem. No marquetês, isso se chama reposicionamento de marca. Só que seria mais adequado se adotassem o nome de Partido Republicano - se bem que, no fundo, é tudo a mesma coisa.

Wednesday, February 07, 2007

Filosofia de pára-choque

Vi outro dia na traseira de uma van, mas bem que que poderia ter sido no pára-choque de um caminhão:

"QUERIA SER POBRE UM DIA, PORQUE TODO DIA É FODA"

Monday, February 05, 2007

Erros de gravação de Paulo Francis

Um vídeo com erros de gravação do jornalista Paulo Francis, morto há 10 anos, está disponível no YouTube. É divertidíssimo, vale conferir.

Thursday, February 01, 2007

Cinemateca exibe hoje Passion, de Godard

O destaque desta quinta-feira da Retrospectiva Godard, na Cinemateca Brasileira, é Passion, filme de 1982 que tem no elenco a atriz Isabelle Hupert. A sessão está programada para às 21h.
Veja o que o crítico Inácio Araújo escreveu sobre Passion.


O outro filme do dia é Número Dois (Numéro deux), às 17h20. Este será apresentado na versão original, sem legendas.


Clique aqui para ver o endereço da Cinemateca e a programação completa da programação, que se estende até 11 de fevereiro.

****
Mais sobre Godard em Ponto de Fuga

Wednesday, January 31, 2007

Police de volta?



Saudosos da banda inglesa, uma boa notícia: o grupo, que se formou na década de 70 e se separou em 1986 – vai se reunir para um show em fevereiro, no dia 11, para abrir a 49a edição do Grammy (clique aqui para saber mais).

Trata-se apenas de uma apresentação, mas foi o que bastou para surgirem especulações sobre a possível volta definitiva aos palcos da banda composta por Sting, Stewart Copeland e Andy Summer. Dizem até que eles estariam planejando uma turnê pelos EUA e Inglaterra neste ano.

A banda nega que vá retornar de vez à labuta, mas nunca se sabe...

Pode ser nostalgia, mas bem que gostaria de vê-los na ativa novamente.

Saturday, January 27, 2007

Túnel do tempo

Pérola: Língua de Trapo tocando, no Festival dos Festivais, da Globo, o "hit" "Os Metaleiros também amam". A música ficou entre as 12 finalistas do festival. Era 1985, mesmo ano em que foi realizado o Rock in Rio e o heavy metal andava em voga.

Sensacional.





Para ver outro post sobre Língua de Trapo, clique aqui

Wednesday, January 24, 2007

A roupa do filho

Dona Josefa abraçava o corpo do filho morto, já dentro do caixão. Chorava muito. Depois, acariciava o rosto e relembrava a história do seu menino, da infância até o instante fatal em que bandidos o assassinaram a tiros. Geraldo Gomes da Silva tinha 23 anos. O crime ocorreu em Prazeres, Jaboatão dos Guararapes, região metropolitana do Recife.

De repente, Dona Josefa notou algo estranho. Percebeu que seu garoto, que mantinha barba, estava com o rosto liso. “O que será que aconteceu. Será que foi o pessoal do IML? Quem tirou a barba dele?”, pensou. Mas, fazer o quê, de nada adiantava conjecturar a respeito da face sem barba do filho.

Depois de 18 horas de velório, Geraldo foi enterrado.

Quatro horas depois do enterro, no entanto, um agente funerário telefona para a família:
- Olha, aconteceu uma confusão. Quem foi enterrado não foi o parente de vocês. O corpo do Geraldo está no IML.

No lugar de Geraldo, fora enviado um certo Edimilson, também morto a tiros. A troca dos cadáveres ocorreu porque, no momento do reconhecimento do cadáver, Edimilson estava vestido com as roupas de Geraldo.

- Eu reconheci o corpo por causa da roupa que levei pra ele –, disse Marcelo Gomes da Silva, irmão de Geraldo.

Desfeita a confusão, novo velório e enterro para Geraldo, que finalmente pôde descansar em paz.

O Chlamydoselachus anguineus vai te pegar

Ele também atende pela alcunha de tubarão-cobra

E de repente, o estalo

PAC!

Monday, January 22, 2007

Cratera´s tour

Vi hoje de manhã do Bom Dia São Paulo: tem gente que está aproveitando os finais de semana para passear na Marginal. Além de fazer aquele cooper básico, o programa tem segundas intenções: conhecer a Cratera.

"Vim aqui dar uma visitadinha, conhecer a cratera. Todo mundo fala nela", disse uma transeunte.

É o Cratera´s Tour.

Inovações no blog

Como um uma musiquinha sempre cai bem, a partir de agora haverá faixas disponíveis do blog. Dá uma olhadinha à sua direita, ó. É só clicar e correr pro abraço.
Hoje a trinca de ouro vai na pegada punk: Ramones, The Clash e Iggy Pop.

Efeito cratera

Domingo sem sol. Nada de carros, passeio livre. Por causa da Cratera. Hora do jogging dominical, com paisagem aquática de fundo. No simulacro bucólico, o cenário mais parece uma sessão de terapia urbana. Psicodrama coletivo. Com calção da 25 de março e tênis do Largo Treze. Ou comprado numa chiquetérrima loja de sports wear, com amortecedor e apliques visuais. Papai, mamãe, vovó, titia – família.

O cara do barrigão sobe na bicicleta, solta o guidom, abre os braços e proclama a liberdade:

- Marginal fechada! Uhu!

Fio da navalha

Caminhamos no fio da navalha, entre o grito e o silêncio, o assombro e a apatia. Equilibristas do abismo, em busca não sabemos do quê - apenas caminhamos. Sem destino, sem direção. Seres humanos.

Friday, January 19, 2007

Anna Karina, musa para sempre

Devaneios poéticos pós-sessão, na Retrospectiva de Godard na Cinemateca Brasileira, de Uma mulher é uma mulher, com Anna Karina, no auge do talento e da beleza.

Rock, jazz, strip girl com jeito menina. Liberação dos desejos – com graça, poesia. Jump-cuts, Eisenstein na balada pop. Revolução dos costumes, o mundo começa a mudar –e a ser mais colorido. Fragmentado. Pós-moderno.

E eis que Godard nos vem com Anna Karina – fascínio e sutiliza à flor da pele. Que musa é essa que nos moldou a cinefilia do desejo? Que inspirou um novo sentido para o feminino? Close: Uma mulher é uma mulher. Vamos viver a vida. Com Anna Karina.

Caixão de bacana não entra

O corpo seria levado para o cemitério da Alegria. Francisco Sabino Torres, o nome dele. Caixão de luxo. Pago pelo Consórcio Via Amarela, o mesmo que responde pelas obras que resultaram na cratera gigante perto da Marginal Pinheiros. O mesmo que negou inicialmente haver pessoas soterradas. A cratera é a mesma que engoliu o caminhão em que estava Francisco, esse mesmo, aquele que morreu por ter ido ao local da tragédia buscar a carteira de habilitação. Morava em Francisco Morato.

Caixão de gente fina. Grande. Largo. Não coube no pequeno retângulo de concreto aberto no meio da terra. Ali, só caixão de pobre, do tamanho do bolso.

Mas pra tudo se dá um jeito. Para não ficar encalacrado, o corpo foi enterrado de lado.

Todo mundo viu. Menos o secretário estadual de Justiça, Luiz Antonio Marrey, que fora ao cemitério da Alegria dar as condolências à família, mas foi embora antes do fim do enterro. De helicóptero.

Thursday, January 18, 2007

Voltou para pegar a habilitação

Francisco Sabino Torres, 47 anos, motorista de caminhão. Trabalhava nas obras da Linha 4 do Metrô de São Paulo, em Pinheiros. De lá tirava o dinheiro para sustentar mulher e três filhos. Percebeu algo errado. Um estalo. O chão tremia, muito – um negócio bem estranho. Desceu do caminhão e tratou de se mandar.

Então se lembrou: “Minha habilitação!”

Voltou para o caminhão.

Ontem seu corpo foi retirado dos escombros da cratera que engoliu a metrópole.

Wednesday, January 17, 2007

Maratona Godard

Não é toda hora que aparece uma oportunidade de ouro para a cenefilia como esta que a Cinemateca Brasileira nos reserva: será apresentada, de hoje até o dia 11 de fevereiro, a Retrospectiva Jean-Luc Godard, na própria Cinemateca, em São Paulo. Para quem é fá desse que é um dos precursores da nouvelle vague francesa – ou deseja conhecer melhor a obra do diretor de Made in USA e Viver a Vida –, trata-se de uma chance imperdível, dada a escassez de filmes de Godard disponíveis no Brasil.

Não tenho certeza e posso perfeitamente estar enganado, mas talvez a última grande retrospectiva de Godard é a que foi realizada em 2002, no Cinesesc. Tive a oportunidade de ver na ocasião muitos dos filmes agora programados pela Cinemateca, como Pierrot, le fou, Passion, Desprezo, Detetive, Tempo de Guerra, Uma mulher é uma mulher e Alphaville, entre outros. O gosto por essa descoberta está vivo até hoje em mim.

Maratonas cinematográficas como essas são uma ótima ocasião para desfazer mitos e preconceitos contra Godard. O primeiro deles é de que é um cineasta chato. Essa imagem surge do fato de que Godard busca um cinema que exige a interação por parte do espectador, ou seja, a entrega do espectador é fundamental para que de fato haja um diálogo entre a obra e quem a assiste. Ele não entrega a refeição mastigada; não é passatempo fast-food. Godard usa a forma para reforçar o discurso.

Anna Karina, musa de Godard
Especialmente nos últimos tempos ele passou a produzir filmes que se aproximam da poesia ou de ensaios audiovisuais – Je vous salue Marie (1985), Nossa Música (2004) e Elogio ao Amor ( 2001) vão nessa linha. São filmes belos e importantes, mas que exigem muito do espectador. Daí a fama. Mas se o espectador estiver disposto a mergulhar nessas reflexões, o resultado é compensador.

Feita essa observação, é preciso dizer que a carreira de Godard é feita de fases, das quais a inicial é composta por filmes que não fazem jus à má fama atribuída por quem é prefere um tipo cinema que dialoga mais facilmente com as grandes platéias.
Como bem observou Alcino Leite Neto, jornalista da Folha, em artigo de 2003, com Godard “ocorria, pela primeira vez, a emergência do pop no cinema, com imensa liberdade de estilo, rompendo todas as amarras da tradição cinematográfica e artística”.

Acossado

Acossado, que abre a retrospectiva, serve de exemplo. Lançado em 1960 – no embalo da ótima aceitação conferida a Os Incompreendidos (François Truffaut) e Hiroshima, meu Amor (Alain Resnais), tidos como os filmes inaugurais da nouvelle vague –, Acossado é o primeiro longa de Godard, conhecido até então pelo trabalho como crítico para a Cahiers du Cinéma, a tradicional revista francesa de cinema.

Embalado por um certo tom satírico e irônico, Acossado remete aos filmes noir produzidos nos EUA, com Michel Poiccard (Jean-Paul Belmondo), um debochado ladrão parisiense que admira Humprey Bogar, como protagonista. Esse personagem remete, às avessas, aos gângsteres dos filmes americanos. No filme, ele mata um policial que o perseguia pelo fato de ter furtado um carro. Poiccard quer fugir para a Itália e levar junto Patrícia (Jean Seberg), uma bela jovem americana.

Acossado é considerado um dos filmes – se não “o” filme – que inaugura o cinema moderno. Isso se deve, entre outros tantos motivos, pelas inovações no modo de filmar – especialmente na montagem, com uso da técnica de faux raccord, que quebra a seqüência das imagens e torna a narrativa ágil e fragmentada. Também deve ser destacada a abordagem moderna de temas como libertação feminina, política, a Guerra Fria, existencialismo e as aspirações da inquieta juventude dos anos 60.
Outros filmes que vão na contramão do senso comum – e podem agradar não apenas aos já fãs de Godard – são os já citados Pierrot, le fou, Alphaville, O pequeno soldado e Detetive.
Vou voltar ao assunto nos próximos dias.

Os filmes exibidos hoje na retrospectiva:

15h30 Acossado
17h20 Uma mulher é uma mulher
19h10 Viver a vida
21h00 O pequeno soldado


Atenção para o serviço:
Sala Cinemateca
Largo Senador Raul Cardoso, 207 – Vila Mariana
próxima ao Metrô Vila Mariana
Outras informações: 5084-2177 (ramal 210) ou 5081-2954

Ingressos: R$ 8,00 (inteira) / R$ 4,00 (meia-entrada)

Atenção: Estudantes do Ensino Fundamental e Médio de Escolas Públicas têm direito à entrada gratuita mediante a apresentação da carteirinha.

Para ver a programação completa, clique aqui

Friday, January 12, 2007

Vietnã reloaded

O Iraque é o Vietnã do Bush

Thursday, January 11, 2007

Homenagem ao Tony Blair, o fiel escudeiro do Bush



"No future/No future/No future for you"
Sex Pistols: God Save the queen.

Homenagem ao Bush

O negócio tá punk atualmente. Portanto, Dead Kennedys, banda que sempre atacou todos os presidentes dos EUA.
California Uber Alles.


Nova rodada do WAR

Em andamento desde 2003, ingressamos agora numa nova rodada do WAR II (sim, é o II porque teve o WAR I foi em 1991 e também porque no II pode usar aviãozinho) : o jogador George W. Bush trocou as cartas, somou os territórios que possui e assim obteve mais 20 mil exércitos – mas há competidores, adversários ou mesmo aliados que alegam que ele está roubando no jogo ( “Não tem direito a 20 mil, não senhor, isso vai ter de ser aprovado em votação no Congresso do Jogo War).

Ele vai despejar tudo no território Iraque, mais especificamente na capital Bagdá. Quem possui interesses nos territórios próximos ( Síria, Irã etc), que se cuide: o objetivo de Georginho deve ser destruir aquela joça toda lá ou conquistar esses territórios de meia tigela. Ou também deve ser a conquista de um total de 50 territórios mais a África, porque ele também está metendo o bedelho na Somália, vai saber?

Wednesday, January 10, 2007

As reflexões de Tarkovski


Como presente de aniversário, ganhei da Lucia Faria, minha amiga e sócia, um belo livro – que o Ivo, marido dela, já havia me recomendado em dezembro: “Esculpir o tempo” (Martins Fontes), de Andrei Tarkovski, cineasta russo (1932-1986). Comecei a lê-lo ontem e já estou encantado.

Na introdução, Tarkovski (O Espelho, Solaris, A infância de Ivan) explica que o livro nasceu da intenção de refletir sobre o seu fazer artístico, o modo como seu trabalho pode ser confrontado com a de outros cineastas e que fatores diferenciam o cinema das demais artes. Floresce em cada linha, além da erudição, um profundo respeito pelo ser humano e o entendimento de que o cinema como canal para expressar em profundidade o sentido da aventura humana.

As poucas páginas já percorridas foram suficientes para ler apontamentos valiosos, como estes listados abaixo:

“A criação artística, afinal, não está sujeita a leis absolutas e válidas para todas as épocas; uma vez que está ligada ao objetivo mais geral do conhecimento do mundo, ela tem um número infinito de facetas e de vínculos que ligam o homem a sua atividade vital; e, mesmo que seja interminável o caminho que leva ao conhecimento, nenhum dos passos que aproximam o homem de uma compreensão plena do significado da sua existência pode ser desprezado como pequeno demais”.

Outro trecho a destacar é aquele em que defende a importância de a obra artística, em vez de entregar as emoções prontas e mastigadas para o público, provocar o espectador, instigá-lo a refletir e a se abrir para um diálogo efetivo com a arte. Diz Tarkoviski:

“O método pelo qual o artista obriga o público a reconstruir o todo através das suas partes e a refletir, indo além daquilo que foi dito explicitamente, é o único capaz de colocar o público em igualdade de condições com o artista no processo de percepção do filme. E, na verdade, do ponto de vista do respeito mútuo, só esse tipo de reciprocidade é digno dos procedimentos artísticos”.

A leitura promete.

Tuesday, January 09, 2007

Artigo sobre fim de contribuição ao Sesc

Foi publicado hoje na Folha de S.Paulo (Tendências e Debates) - e reproduzido logo abaixo - um artigo de Danilo Santos de Miranda, diretor regional do Sesc-SP, sobre o impacto da lei do Super Simples para entidades como o Sesc.

Recomendo a leitura, dada a importância do tema em discussão. Não se pode aceitar a redução de recursos disponíveis a entidades que efetivamente desempenham um papel cultural relevante, como o Sesc. O tema já havia sido abordado neste blog no dia 16 de novembro

São Paulo, terça-feira, 09 de janeiro de 2007

Parece super simples, mas não é

DANILO SANTOS DE MIRANDA

O Supersimples entrará em vigor em seis meses. É prazo suficiente para os autores repararem os danos que causa o atual texto da lei

A APROVAÇÃO quase unânime do Supersimples é sintomática do nível insuportável a que chegaram a nossa kafkiana burocracia tributária e a barafunda cruzada dos impostos municipais, estaduais e federais, cujos efeitos mais danosos vinham recaindo justamente sobre as micro e pequenas empresas, as mais vulneráveis.

A simplificação, a desburocratização e a unificação dos impostos, a par de uma redução da tributação -que seriam a tradução econômica da modernidade-, não poderiam ter chegado em melhor hora. Para todos, ou, ao menos, para quase todos. Sim, pois, na verdade, o Supersimples não é tão simples quanto parece, nem o sentido de modernidade que lhe é atribuído é tão exemplar assim.

Ninguém diz, mas há muitos perdedores com a nova lei, sobre os quais pouco se tem falado e que não se transformaram em perdedores porque eram adversários; pelo contrário, alguns foram aliados de primeira hora de tudo o quanto neste país se pensou e se aspirou acerca de desenvolvimento e modernidade. Referimo-nos ao Sesc (Serviço Social do Comércio) e ao Senac (Serviço Nacional de Aprendizagem Comercial), duramente atingidos ao se isentar as micro e pequenas empresas da contribuição que faziam para sua manutenção. Embora outros dos chamados "S" também sofram prejuízos, o impacto é maior para as entidades do comércio e serviços, setor em que predominam as empresas de pequeno porte.

Não vamos entrar na análise da burla constitucional dessa isenção -os recursos das entidades são garantidos pelo artigo 240 da Constituição, portanto invioláveis-, num magistral gesto de cortesia feito com o chapéu alheio pelo Executivo, com o aval do Legislativo, além de contundente manifestação de desapreço para com os "S", os quais certamente não têm para eles nenhuma relevância, mesmo que lhes dediquem homenagens protocolares de aniversário. É o que explicaria também o fato de nem mesmo levarem em consideração a vitória clara dessas entidades na Justiça em demanda contra outra descabida isenção feita pela receita federal no antigo Simples, que nem sequer a previa. Mais que vencer no campo legal, contudo, importa a essas entidades vencer no plano dos valores, pois seus compromissos com a sociedade brasileira vão muito além da letra da lei.

A modernidade é um desses valores -por ironia, a mesma modernidade que parece ter inspirado o Supersimples, de tão nefasto efeito sobre elas. Não precisamos nos estender aqui sobre o relevante papel desempenhado pelo Sesc no desenvolvimento da cultura e da educação em nosso país -que não passa despercebido pelo cidadão medianamente informado e, menos ainda, pelos milhares de pessoas que diariamente se beneficiam de suas realizações.

Cabe assinalar apenas que é a crença no papel transformador da cultura -papel provocativo e emulador, eu diria- que confere a essa instituição lugar de destaque entre aquelas que apontam para a modernidade. Modernidade que transparece em todos os seus programas, os quais têm merecido, de renomadas organizações internacionais, o reconhecimento que aqui tem sido cada vez mais raro. O mesmo se pode dizer do Senac, formando e qualificando trabalhadores para o setor terciário, inclusive para as micro e pequenas empresas.

Quem perde mais com o Supersimples, entretanto, são os próprios trabalhadores dessas empresas, nas quais, aliás, se encontram os menores salários. Eles passam a constituir uma nova categoria de excluídos: aqueles que perderam seu direito ao Sesc e Senac porque suas empresas foram "beneficiadas" pelo Supersimples com a isenção. As empresas, em contrapartida, abdicam de sua responsabilidade social, vital para a redução das desigualdades sociais e para o desenvolvimento do país.

Era contribuindo com 1,5% (calculados sobre a folha de pagamento) para o Sesc e 1% para o Senac que elas assumiam sua parcela de responsabilidade para com a sociedade brasileira, inspiradas pelo ideário das lideranças empresariais que fundaram os "S", ideário que infelizmente parece esfumar-se nas mãos de algumas lideranças de hoje. De qualquer modo, Inês dorme, mas ainda não é morta. O Supersimples só entrará em vigor dentro de seis meses. É prazo suficiente para que seus autores reflitam e possam, talvez movidos agora por um genuíno espírito de modernidade, encontrar uma forma de reparar os danos provocados pelo atual texto da lei. Não se faz a omelete sem quebrar os ovos, é verdade; mas que omelete há de ser essa, quando se joga a gema fora?

DANILO SANTOS DE MIRANDA, 63, sociólogo, especialista em ação cultural, é diretor do Departamento Regional do Sesc (Serviço Social do Comércio) no Estado de São Paulo. É conselheiro do MAM (Museu de Arte Moderna de São Paulo), da Fundação Itaú Cultural e do Masp (Museu de Arte de São Paulo) e vice-presidente continental da Federação Internacional de Esportes para Todos.

Justiça libera novamente o YouTube

O desdobramento do caso YouTube se deu rápido. Acaba de sair no UOL a seguinte notícia:

09/01/2007 - 13h24Justiça suspende bloqueio ao YouTube no Brasil
Da Redação

O Tribunal de Justiça de São Paulo suspendeu nesta terça-feira o bloqueio ao site de compartilhamento de vídeos YouTube.Segundo despacho do desembargador Ênio Santarelli Zuliani, as operadoras de backbone podem liberar o acesso ao site. Contanto, elas devem informar ao Tribunal as razões técnicas da impossibilidade de bloquear apenas o vídeo em que a modelo Daniella Cicarelli e seu namorado Tato Malzoni trocam carícias íntimas em uma praia de Cádiz, na Espanha.O site começou a ser bloqueado nesta segunda-feira por empresas de telefonia após decisão judicial em favor da modelo. Ao menos 5,7 milhões de internautas não conseguem acessar o domínio www.youtube.com.

"O incidente serviu para confirmar que a Justiça poderá determinar medidas restritivas, com sucesso, contra as empresas, nacionais e estrangeiras, que desrespeitarem as decisões judiciais. Nesse contexto, o resultado foi positivo", diz o despacho de Zuliani.Rebatendo a pecha de censura, ele continua: "Impedir divulgação de notícias falsas, injuriosas ou difamatórias, não constitui censura judicial. Porém, a interdição de um site pode estimular especulações nesse sentido, diante do princípio da proporcionalidade, ou seja, a razoabilidade de interditar um site, com milhares de utilidades e de acesso de milhões de pessoas, em virtude de um vídeo de um casal."

A assessoria do Tribunal de Justiça, no entanto, reitera o bloqueio do acesso ao vídeo. "A determinação deve ser cumprida desde que seja possível, na área técnica, sem que ocorra interdição do site completo", diz comunicado. Segundo o TJ, o juiz da 23ª Vara Cível, onde corre o processo de origem, comunicará ainda hoje as empresas responsáveis para que restabeleçam o acesso ao restante do site.Oito empresas haviam sido incluídas no laudo técnico da Justiça para o bloqueio do YouTube. Brasil Telecom e Telefônica já tinham barrado o acesso.

O processo Cicarelli e Malzoni haviam processado o YouTube no ano passado por não ter retirado do site o vídeo em que os dois aparecem supostamente fazendo sexo no mar em Cádiz. Durante muitos dias o vídeo foi o mais assistido na Internet no Brasil.Os dois queriam a retirada das imagens do site e pediram o pagamento de multa diária de R$ 250 mil caso o vídeo continuasse disponível.O caso se arrastava há meses, e o casal iniciou um novo processo em dezembro, pedindo que o acesso ao YouTube fosse restrito enquanto o vídeo estivesse disponível.

YouTube fora do ar

O amigo ou amiga que acompanha o Ponto de Fuga vai notar que hoje (dia 9 de janeiro) há uns espaços em branco em certos trechos destas páginas. Nesses espaços foram postados vídeos, que não momentaneamente não podem ser acessados. Por quê? Porque o YouTube está fora do ar no Brasil. E por quê? Porque o Tribunal de Justiça de São Paulo acatou pedido dos advogados de Daniela Cicarelli e seu namorado, Renato Malzoni Filho. Eles não querem que o vídeo em que protagonizam cenas picantes numa praia seja mais exibido pelo YouTube.

Assim , a Brasil Telecom e a Telefônica – a essa altura creio que outros provedores também – bloquearam o acesso ao site de vídeos mais popular do mundo.

O método usado para o bloqueio foi a instalação de um filtro no backbone internacional dos provedores para impedir o tráfego de qualquer arquivo que venha do YouTube. Em poucas palavras, isso quer dizer o seguinte: a desfaçatez costuma alcançar níveis inimagináveis. Imbecilidade, afronta à liberdade na internet.

Com a polêmica a mil, o Tribunal de Justiça de São Paulo foi à imprensa, por meio de sua assessoria, dizer que o desembargador Ênio Santarelli Zuliani, o responsável pela sentença, não ordenou a retirada do YouTube do ar, mas sim impediu o acesso ao vídeo de supostas cenas de sexo da apresentadora.

Na prática, porém, o fato é que o acesso está fechado de uma maneira geral.

O que essa distinta senhorita Cicarelli ganha com isso? Notoriedade, algum novo contrato fabuloso no reino da mediocridade midiática? Certamente é isso o que ela busca. O esfrega-esfrega no balanço do mar lhe rendeu generosos espaços em revistas e tempo em TVs, convites de trabalho etc. Foi uma estratégia de fazer inveja aos mais arguto profissional de marketing.
Pois é. Há quem queira aparecer a todo custo, mesmo que seja deleitar-se no ridículo, nas agruras do patético.

Não é por acaso que já começa a crescer um intenso movimento na rede de repúdio a essa situação. Basta dar uma busca no Google e passear pela internet para constatar.

Sobre o bloqueio ao acesso do conteúdo do YouTube, o advogado Gilberto Martins, especializado em direito na internet, afirmou ao site Comunique-se dias atrás que o bloqueio para sites brasileiros seria inadequado. “É como se uma editora de livros fosse obrigada a fechar as portas caso publique um livro considerado problemático, comprometendo as vendas de outros livros, o que não é razoável”, declarou.

Ou seja, houve um problema pontual, mas não interessa: fecha, e estamos conversados.


Para saber mais sobre o assunto:

Comunique-se

IDG Now!

IDG Now! 2

Meio Bit

Monday, January 08, 2007

Elvis Presley, o aniversariante mais ilustre do dia

8 de janeiro de 1935. Cidade de East Tupelo, no Mississipi, onde corria a veia do blues. Nascia Elvis Aaron Presley. O garoto que freqüentava a igreja e se encantava com o gospel, R&B, e que aos 16 anos ganhou um violão. Ex-motorista de caminhão que vendeu, até hoje, mais de mais de um bilhão de discos. O homem de Blue Suedes Shoes. Elvis – The Pelvis. O prisioneiro do rock. O Rei.

Suspicios Minds



60 anos de David Bowie



8 de janeiro de 1947. Nascia no bairro de Brixton, em Londres, David Robert Jones, que a partir de 1967 lançaria seu primeiro compacto e depois viraria o rock de ponta cabeça. David Bowie, o homem de múltiplos personagens. O precursor do glitter. O Starman. O adorável lunático de Space Oddity, canção inspirada em 2001 – Uma Odisséia no Espaço, de Stanley Kubrick. 60 anos – vida longa ao criador de Ziggy Stardust.


Saturday, January 06, 2007

Blá blá blá egocêntrico

Pára de falar porra!


Estamos muito centrados em nossos próprios problemas, dilemas, desejos e não damos para a mínima para o que o outro tem a nos dizer. Não enxergamos o Outro como alguém com quem podemos aprender, enriquecer nossas experiências ou simplesmente nos divertir mutuamente. Olhamos apenas para o próprio umbigo

Poucas coisas são mais irritantes do que as pessoas que só falam de si mesmas. Mergulhadas no próprio umbigo, desandam a um palavrório que nada se assemelha a um diálogo, mas sim a um “monólogo com audiência”, se posso assim nomear esse que é um dos sintomas do desgaste das relações e do individualismo exacerbado dos dias atuais. Claro, há muitos que fogem a essa regra – graças a Deus! –, mas é comum depararmos com aqueles que só querem falar, falar, falar, e não trocam, não compartilham experiências. Em outras palavras, não reconhecem o Outro.

Para esses, o interlocutor nada mais é que uma extensão de si mesmo, uma múmia fadada a reverberar suas peripécias “maravilhosas” ou a aplaudir a mediocridade de sua existência. Sinal dos tempos: estamos muito centrados em nossos próprios problemas, dilemas, desejos e não damos para a mínima para o que o outro tem a nos dizer. Não enxergamos o outro como alguém com quem podemos aprender, enriquecer nossas experiências ou simplesmente nos divertir mutuamente. Olhamos apenas para o próprio umbigo.

A coisa acontece mais ou menos assim: o sujeito, ou a distinta – porque a praga acomete ambos os gêneros, embora se constate que o fenômeno ocorra em maior medida entre o sexo feminino –, começa timidamente a proferir umas palavrinhas amáveis, cordiais. Em seguida, solta o carro na ladeira e vâmo que vâmo.

“Porque EU fiz isso e aquilo; porque, de manhã, EU disse pro fulano de tal que etc e tal e depois ME aconteceu isso e aquilo e aquilo outro; sabe, EU gosto de amarelo, vermelho, roxo, azul, abóbora. Não, não, EU NÃO GOSTO DE ABÓBORA, TÁ ENTENDENDO?. Na verdade, EU gosto é de mamão papaia ou então maçã com pão integral. Mas a bem da verdade, não queria te dizer, mas EU gosto de sair à noite com meus amigos, e sabe que na balada de ontem à noite EU fiz e aconteci. Tudo bem que teve uma hora, que para pagar a conta, foi um horror e blá,blá,blá”

E mais blá blá, blá, bla.

Em outros tempos, era mais paciente e tolerava situações como essas. Ficava ouvindo, tentava mudar o rumo da “conversa”, deixava entrar por um ouvido e sair pelo outro, na esperança de que a criatura se tocasse e começasse a dialogar. Mas percebi que isso é besteira: quem age assim normalmente não tem a sensibilidade de perceber os sinais lançados pelo outro.

É por essas e outras que agora acho que só Ctrl + Del Salva.





Entrega

Cortei as mãos nos espinhos de uma rosa.
Era tão bela, tão sedutora a rosa
que me entreguei a ela
como se fora uma noite em que vale tudo,
em que vale a felicidade. (texto escrito em 2001)

Thursday, January 04, 2007

A fúria melódica de Nick Cave


As I sat by sadly by her side, de Nick Cave, é uma de minhas “músicas de cabeceira” há alguns anos. Para ser mais preciso, desde que comprei o disco No More Shall We Part, em 2001, mesmo ano de lançamento do CD desse excelente músico australiano que morou em São Paulo durante um certo tempo lá pelos idos dos anos 80 e começo dos 90. Canção melódica, melancólica, poeticamente triste mesmo: arrebatou meus ouvidos e coração de imediato. O disco todo é bom, aliás: destaques para And no more shall we part, Hallelujah, Oh My Lord e Love Letter.

Músico que gosta de abordar temas como Deus, religião, a morte e a devoção, Nick Cave nasceu em 1957 na cidade Warracknabeal. Uma de suas primeiras bandas, criada no começo dos anos 80, foi The Birthday Party, que se estabeleceu em Londres. Algumas perambulações mais tarde, Cave monta, com Mick Harvey, colega do The Birthday Party, a banda The Bad Seeds, em 1984, na ativa até hoje.

O primeiro clipe disponível aqui é o de As I sat by sadly by her side. A dose dupla musical, composta pelo vídeo de Do you love me?, do disco Let Love In, vale por ter São Paulo como cenário – ou melhor dizendo, algum inferninho da metrópole que não dorme nunca.

As I Sat by sadly by her side


Do you love me?

Wednesday, January 03, 2007

Baú de guardados

De vez em quando reviro meu baú de guardados. Rabiscos antigos, palavras e mais palavras: espelhos de épocas que se foram. Servem-me como uma bússola voltada para o passado, o que, paradoxalmente, me ajuda a compreender como sou hoje: o que me formou, como me construí, quais são meus alicerces.

É desse baú que vem o texto abaixo, que escrevi por volta do ano 2000. Na época, sentia a necessidade de refletir sobre as transformações pelas quais todos passamos nas diferentes etapas de nossa vida, mais especificamente na adolescência. O que fica do que primeiros sonhos, da experiência libertadora de descobrir o mundo pelos próprios passos?

Ao olhar para trás,percebo que é natural do ser humano construir filtros para selecionar o que ficará no passado e o que o acompanhará pelas inúmeras jornadas da vida. O importante é ter consciência desse filtro, para tirarmos o melhor proveito dessa experiência. E um dos grandes desafios desse processo é preservar a alegria de viver, o prazer de descobrir o mundo e, apesar de todos os percalços, continuar a ter sonhos. São eles que nos movem; são eles que nos humanizam.



Talvez um dia renegue a todos os ideais que me fizeram a cabeça aos quinze anos ou até aqueles nos quais nunca acreditei de verdade, mas que os vivi intensamente, e que por isso mesmo se tornaram tão verdadeiros que de fato acreditei neles como sendo minha única razão de viver. Talvez. Mas meu coração se assombra com essa visão e por isso se reveste com um escudo de flores.

Talvez assista a um filme e imagine o que faria se estivesse na pele do personagem.
Talvez pergunte o que faria se me fundisse com as telas na busca de um sonho inatingível, surrealista, e que justamente por esses motivos me criassem uma realidade tão comovente e reveladora.

Talvez me perca em delírios e não chegue a lugar algum.
Talvez vença o medo de ousar por caminhos desconhecidos e até me embriague com o frescor de uma certa nostalgia do futuro.

Talvez ultrapasse o limite da insensatez. Talvez veja a cara da morte, uma morte tão solene quanto imbatível. E tão bela quanto eficaz. Talvez acorde e perceba que nem todos somos felizes. (Clayton, ano 2000)