No dia 29 de dezembro de 2001, eu estava em Jericoacoara, no Ceará. Foi quando anoiteceu que a informação sobre a morte de Cássia Eller se espalhou pela praia, que em breve teria uma festa, com shows de bandas locais.
É quase impossível descrever como ficou o ambiente assim que os cochichos sobre a morte corriam de boca em boca.Dessa experiência nasceu a crônica abaixo, redigida dias depois de Cássia ter ido cantar em outras paragens.
Blues para Cássia Eller
A notícia se espalhou como um manto que se estende sobre o abismo. As pessoas bebiam, fumavam, trocavam idéias sobre os desencontros e belezas da vida. O som rolando. A lua cheia.O bar em plena praia abria as portas quando veio a notícia. Jericoacoara. Pessoas em busca de vida, de uma madrugada de luz, de um sorriso entorpecido submerso na alegria.
Então a notícia veio até mim baixinho, quase um sussurro, uma mentira de fim de ano. Mas não era. “Ela morreu”, e de súbito revirei os escombros de minha vida. Me lembrei da adolescência. Das baladas em bares ou casas de amigos. Ela sempre estava lá. Por isso não podia ter partido - mas tinha.
A noite adentrava. No telão um show gravado. A face severa, os braços deslizando sobre o violão, por vezes o sorriso de uma garotinha. Os olhos da multidão tragados pela tela. Com a imagem ao fundo, uma banda entoou suas canções. Cada peito ali, aflito, se apertava e o reflexo do brilho nos olhos tornava o cenário um mosaico de secretas sensações.
Tive vontade de chorar. E chorei, de mansinho. Era noite de lua cheia. Uma noite em que caminhei até o mar, embebido na escuridão, e lá fiquei até que escutasse um gemido rouco partindo das ondas e se perdendo entre as estrelas.
Friday, December 29, 2006
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2 comments:
"correr com lágrimas nos olhos não é definitivamente pra qualquer um"
mas o riso corre fácil quando a grana corre soltaaaaaa.
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