Friday, December 15, 2006

Visconti segundo Glauber

Estou lendo as críticas de cinema escritas por Glauber Rocha. Assim como nos longa-metragens, sua linguagem nos textos também costuma seguir o fluxo fragmentado, a inventidade formal, a fraseologia do tormento, a poética alucinada.

Um exemplo disso está em Forma e sentido do cinema, em que discorre sobre Visconti, um dos principais diretores do neo-realismo ao lado de Roberto Rosselini.
O texto está presente em O Século do Cinema, livro que reúne as críticas redigidas por Glauber.


Forma e sentido do cinema

Glauber Rocha

Onde começa o filme e onde termina a literatura? Onde caem a filosofia vaga e sem método, o teatro declamado, a poesia fácil e começa o filme, essa entidade misteriosa que críticos, filmólogos e teóricos invocam?

Que Filosofia é esta que dizem haver em Fellini e Bergman? Onde está a Filosofia com os séculos de existência que possui para aparecer tão fácil assim, especulando, impondo Éticas a partir de um mecanismo do século XX?

O filme absoluto, aquele que não mais investiga a expressão, que não mais experimenta, que não mais propõe um problema mas o resolve em sua origem e surge como Universo total?

Luchino Visconti concentra naquela outra “realidade” nascida da tela branca a transferência de seu espírito para a imagem. E de ponta a ponta existe a Imagem que eu Sou. Que você é. Que é o mundo, suas paisagens e circunstâncias.
Visconti superou o Corte. Superou o Cinema.

(...)

Alain Delon, em Rocco e seus irmãos,
de Visconti

Arista de requinte, VISCONTI É O PROUST DO CINEMA NO SENTIDO FORMAL DO GESTO QUE SE COMPLETA ATÉ UNHA COÇAR A POEIRA.

Visconti não despreza a Palavra nem o Teatro. O Drama está no palco que Visconti constrói para armar os alicerces de seu Universo. Não é aquela velha e tola história de exibir um filme falado sem som para se ver que o entendimento é perdido.

Visconti tem a palavra como Maior Som do Homem e o Palco como o Espaço ideal do Ser Dramatyko.

1 comment:

Anonymous said...

é preciso que tudo mude para tudo continuar como está