Acabo de ler um livro que me deixou intrigado: A Reputação na Velocidade do Pensamento (Geração Editorial), do jornalista e consultor Mário Rosa. De leitura para lá de agradável, a obra chama atenção para algo que pode ficar encoberto no cotidiano atribulado da vida contemporânea, de tão natural que parece ser: provavelmente não temos noção do que representa viver num mundo em que o monitoramento sobre a atividade humana atinge níveis inimagináveis há até uma década. Câmeras de circuito interno em edifícios, avenidas e outros recintos; celulares que gravam vídeos e fotografam; sistemas de rastreamento online etc etc – e o YouTube para todo mundo deitar e rolar. Além disso, o computador pessoal nada tem de pessoal. Todos os seus rastros nele ficam registrados e podem ser acessados, por exemplo, pelo departamento de informática da empresa onde trabalha ou um técnico que prestar serviço a você. Já pensou o que pessoas mal intencionadas, com informações suas que você jamais gostaria de ver expostas em praça pública, pode fazer?
(Uma digressão: até mapeamento do cérebro já existe. A neurociência consegue hoje observar o cérebro em atividade, o que permite aos pesquisadores entender melhor como se processam as emoções, a cognição, o pensamento e o raciocínio. Com essas informações em mãos, claro, o marketing não iria perder tempo. E nos EUA, claro (!), já circula uma nova modalidade de estudo chamada neuromarketing, que investiga as correlações entre a atividade cerebral e estímulos externos. Os “neuromarqueteiros” usam equipamentos que fornecem imagens do cérebro. Dessa forma, tentam saber que regiões são ativadas quando a pessoa é exposta a marcas, imagens, produtos ou mensagens políticas. Ao identificarem as emoções geradas, podem direcionar melhor as campanhas publicitárias. Esse método em tese permitiria saber, por meio de imagens da atividade cerebral, qual a cor que uma embalagem deve ter para seduzir o consumidor. Pode isso?!)
Até aí, alguém pode dizer: grande novidade dizer que somos todos monitorados; o mundo virou mesmo um imenso Big Brother. Mas você já parou para pensar o que isso representa de fato? Isso traz uma série de implicações, como a constatação de que, graças à tecnologia da informação, todos somos pessoas públicas, como bem diz Rosa no livro.
Um dos méritos de Mário Rosa é justamente chamar a atenção para o fato de que, com a revolução tecnológica em curso – o termo revolução pode ser alvo de debates, mas ninguém duvida das transformações irreversíveis provocadas pelo digital –, uma nova postura diante do mundo é necessária. É preciso saber que estamos todos numa vitrine virtual, com acesso livre e irrestrito pela internet. Estamos preparados para conviver nesse ambiente? Como lidar com essa realidade? Quais seus limites?
Se a Daniela Cicarelli tivesse parado para pensar a respeito, não teria protagonizado as cenas de “amor carnal” mais comentadas da atualidade.
Por falar em YouTube, esse talvez seja um dos maiores emblemas dos riscos e delícias da visibilidade proporcionada pela era digital.
O lado bom de tudo isso é que fica mais fácil pegar corrupto com a boca na botija, como atestam um bocado de escândalos políticos recentes, flagrados pelo que a tecnologia oferece de mais moderno.
“Não devemos nunca esquecer um fato concreto dos nossos dias: nunca nossa privada nunca foi tão pública como nos tempos atuais. Isso porque nunca também tantos estranhos, tantas pessoas que nem sabemos o nome ou o sobrenome, nunca tanta gente desconhecida teve acesso à nossa privacidade”, escreve Rosa.
Saturday, September 30, 2006
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