Tuesday, November 14, 2006

A filosofia da liberdade de Espinosa

Acabo de ler Espinosa – Uma filosofia da liberdade, de Marilena Chauí (Editora Moderna). Fiquei impressionado com a capacidade desse pensador holandês de origem judaica de ser de ser odiado pelo status quo da ocasião. Ele foi capaz de despertar, no século XVII, a ira da Igreja e da própria comunidade judaica, que o considerou herege. Entende-se: árduo defensor da liberdade de pensamento e de expressão, colocou-se contra a tirania teológico-religiosa e defendia a idéia, conforme escreve a professora Marilena, de que a “democracia é o mais natural dos regimes políticos” porque realiza nosso direito natural pelo qual todos os homens “desejam governar e não serem governados”.

Baruch de Espinosa dizia, em Tratado Teológico-político, que a Bíblia não tinha como objetivo apresentar uma teoria sobre a verdadeira essência de Deus. Na verdade, buscava tão somente “oferecer à imaginação dos devotos um conjunto muito simples de crenças religiosas e morais, necessários aos que não aspiram ao conhecimento racional e filosófico de verdade”, escreve Chauí.

Ainda estou digerindo a pancada que são as idéias de Espinosa – aos poucos, em doses homeopáticas, que é para não entrar em curto-circuito. Em todo caso, reproduzo aqui um trecho de Espinosa – uma filosofia da liberdade que me chamou particular atenção, dado o fato de vivermos o apogeu da sociedade de consumo e seus reflexos mais dramáticos, entre eles, o empobrecimento das relações humanas. Lá vai:

“No Tratado da correção do intelecto, Espinosa parte da experiência individual e intersubjetiva como experiência trágica: o sentimento de perder um bem desejado cada vez que se imagina tê-lo alcançado. Essa fuga interminável de bens que se consomem e nos consomem divide os homens e os aliena porque imaginam a felicidade depositada em coisas que precisam ser possuídas com exclusividade.

Essa perda incessante torna impossível não só a realização do desejo de felicidade, mas também a liberdade, lançando os homens numa guerra sem freios pela posse dos objetos nos quais investiram sua esperança. Eis por que Espinosa dirá que a felicidade e a infelicidade dependem da qualidade do ser ao qual nos unimos por amor, porque há entre o desejar e o desejado um vínculo intrínseco.

Amando coisas perecíveis e cuja posse exclui os demais, a felicidade será perecível e ameaçada pelo desejo de outrem. A felicidade é desejar um Bem imperecível que, sendo capaz de ‘comunicar-se igualmente a todos’ e de por todos ser compartilhado, permite o exercício da liberdade.

Espinosa não duvida da existência desse Bem como não duvida de que possamos alcançá-o. O Tratado visa oferecer à inteligência os recursos para chegar ao bem verdadeiro. Com isso, Espinosa articula internamente o desejo da felicidade, da liberdade e da verdade.”

6 comments:

Anonymous said...

A parte do amor e do ciúmes para o filósofo é de doer... o ciúmes é o mais constrangedor dos sentimentos pois você ama o seu algoz... não é isso? Eu heim, Espinosa!

Anonymous said...

tem mais uma passgem ótima que a chauí diz que Espinosa critica a culpa cristã-judaica que nos deixam de herança e exalta a liberdade.... muito bom ... preciso lebrar melhor a passagem do ciúmes ... é de doer DE BOM

Anonymous said...

nao entendi porra nenhuma!!!

filosofos eram td loukos

assim disse o mu professor antonio piva.

Clayton Melo said...

tudo louco, tudo louco! como nós (rs).

Anonymous said...

Espinosa, como muitos outros, estava a frente de seu tempo... melhor, a frente de nosso tempo também. Bom que de vez em quando aparece alguém que é diferente dos demais... e isso permite evoluir... já imaginou todo mundo fazendo tudo sempre igual? Estariamos, ainda, nas cavernas... pensando bem, aquele primeiro que construiu uma casinha de pedras ou madeira deve ter sido chamado de louco!

Anonymous said...

Em uma época em que se julgava se uma pessoa era livre ou deterministra, Espinosa tinha uma postura diferente,
era saber a que medida a partir do determinismo e por meio dele é que podemos exercer a liberdade.
Ele tinha uma visão que se baseava nas paixões, as paixões alegres e as paixões tristes e cita que os desejos que nascem das paixões tristes são mais fracos do que os desejos que nascem das paixões alegres.

O cara viajava no último.